9.14.2007

Complex

Nota Prévia:
Sou um adepto fervoroso do "Simplex", no encurtamento da relação burocrático entre os cidadãos e o Estado, na desmaterialização de documentos, simplicidade de processos, redução de custos e (já agora) na redução dos jeitinhos e jeitos da administração pública, que fazem de nós um país de jeitosos e alimenta a pequena (e grande) corrupção e compadrio.
Por isso, dê-se o mérito a quem o merece - Dr. João Tiago Silveira.

Enquadramento
Assumi recentemente a assessoria contabilística e fiscal de uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social - em regime pro bono, ou seja, à borla). Esta instituição é apoiada em vários projectos pela Segurança Social, nas áreas de inserção na vida activa (UNIVA), apoio ao imigrante, refugiados e asilados, entre outras áreas. Como a devolução de algumas despesas apresentadas tardava, contactei os serviços da Segurança Social...

O "Complex"
Atende-me uma senhora muito simpática, exponho a questão e diz-me a senhora(adiante SS):

SS - Sabe, é que falta uma declaração em como não tem dívidas ao Estado ....
KN - Mas já entregámos isso...
SS - Mas falta a declaração em como não deve nada à Segurança Social

(tentei então corrigir a senhora, devia estar a falar em como não devíamos nada às finanças)

KN - Deve ser das Finanças ...
SS - Não, não, essa está cá. O que falta mesmo é a da Segurança Social

(comecei a ficar baralhado, confesso ...)

KN - Mas desculpe, eu estou a ligar para onde? (Queres ver que liguei para as Finanças em vez de ligar para a Segurança Social? - Bem dizia eu que 5 dias de férias não davam para nada ...)

SS - Para a Segurança Social

KN- Desculpe, mas deixe-me ver se percebi. Para receber o dinheiro da Segurança Social, preciso de provar que não devo nada às Finanças e à Segurança Social. Entrego a declaração das Finanças e os senhores não podem ver logo aí se não devo nada à Segurança Social????

SS - Pois, sabe como é ... (eu sabia como era, mas pensei que já não era ...)

KN - Mas diga-me cá uma coisa. Eu vou ao balcão da Segurança Social. Peço a declaração. Os senhores entregam-ma. Eu recebo-a e torno a devolvê-la aos senhores, é isso? E aí já me pagam?

(Nesta altura já estava a tentar não me desmanchar a rir na cara (ou na orelha, no caso) da Senhora)

SS - É isso mesmo, Depois recebe logo a dinheiro, confirmado que não deve nada à Segurança Social!

KN - Hummmm, que é para o Estado não gastar dinheiro indevidamente, não é? (Bela ironia esta. Duplica-se o trabalho público, com os devidos encargos, para não se ter encargos indevidos)

SS - Pois, deve ser isso. É que isso é com as minhas colegas.

(Desculpem, não consegui resistir mais)

Ainda hoje a Senhora deve pensar que ligou para lá um maluco a rir-se sem parar.

KN

2 Comments:

Blogger postquesequer said...

É impressão minha ou isto da reprodução de conversas telefónicas começa a tornar-se um hábito neste blog?!

Atenção, que a partir de amanhã, quem, sem consentimento e com intenção de devassar a vida privada das pessoas, designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual, interceptar, gravar, registar, utilizar, transmitir ou divulgar conversa, comunicação telefónica, mensagens de correio electrónico ou facturação detalhada é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 240 dias.

ACR

4:51 PM  
Blogger Filipe Tourais said...

Um verdadeiro absurdo, como muitos outros. São muitas vezes fruto de funcionários relaxados, mas sobretudo duma péssima organização e de chefes de serviço que, não poucas vezes, nem sequer os conhecem, serviço e funcionários que, supostamente, dirigem. Estas aberrações são facilmente detectáveis pelas reclamações apresentadas (espero que tenha apresentado a sua?) e ao chefe de serviço compete corrigir ou reencaminhar superiormente, consoante tenham ou não autonomia para actuar.

8:46 PM  

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