6.19.2007

Mas ninguém pára estes FILHOS DA PUTA?

Primeiro, a notícia, retirada do Jornal Público (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1297142):

“Um relatório que já está na posse do Ministério da Saúde há quatro meses regista que quatro especialidades médicas estão maioritariamente privatizadas e recomenda a extinção ou fim do financiamento pelo Estado dos subsistemas públicos de saúde. De acordo com o relatório — elaborado pelo grupo de trabalho nomeado pelo Governo para estudar medidas que garantam a subsistência do Serviço Nacional de Saúde —, a medicina dentária quase não existe nos serviços públicos, já que mais de 92 por cento das consultas são privadas. Outras das especialidades maioritariamente privadas são a Ginecologia e a Oftalmologia, com uma taxa de privatização na ordem dos 67 por cento. A seguir surgem as consultas de Cardiologia (54 por cento) e de Ortopedia (45,5 por cento). Os autores do documento propõem a redução dos benefícios fiscais em despesas de saúde em sede de IRS; o aumento anual das taxas moderadoras; a revisão do regime de isenções; e a extinção ou fim do financiamento pelo Orçamento do Estado dos subsistemas públicos de saúde, nomeadamente a ADSE.”


Mais um grupo de trabalho, pago principescamente pelo erário público, volta à carga, deixando no ar a ideia da insustentabilidade do serviço Nacional de Sáude, com a teoria de que os serviços básicos de saúde, constitucionalmente consagrados, são dispensáveis ou desprezíveis.
Depois da extraordinária teoria de privatizar o INEM (!!), voltam à carga.


Estes “consultores” fazem ideia em que país é que vivem?

- Sabem que há mais de 1.800.000 pessoas cujas pensões são abaixo do salário mínimo?
- Sabem que perto de 400.000 pessoas ganham o salário mínimo (o que equivale, após descontos, a qualquer coisa como 12 euros por dia)?
- Que a Natalidade não se fomenta, sendo essa uma batalha decisiva para o futuro do País (a que ninguém liga, diga-se), quando se tem de ir de mês a mês a uma Ginecologista e não pode aí haver listas de espera e uma consulta privada custa 70/80 euros?
- Que a saúde não pode ser vista como um privilégio, mas sim como um direito universal?
- Que 500.000 pessoas estão desempregadas? E quase outras tantas, em risco de lá ir parar, oriundas dos sectores tradicionais?

Podem vir com a lenga-lenga que há muitos desempregados que não querem trabalhar (que há), que o Estado não dá para tudo, com as teorias da racionalidade/eficácia/eficiência, o que quiserem, mas não passam de uns abutres.

O empurrar (dos que podem) para uns seguros privados não os aborrecem, as parcerias público-privadas, altamente prejudiciais ao erário público, também não os preocupam, os acordos de arbitragem cozinhados não lhes tiram o sono, o acumular vergonhoso da prática médica pública/privada, com faltas e ausências consecutivas no sector público, transferindo os recursos (e clientes) para o privado não os chateia, a formação (em número) ridícula, para a substituição e elevação da oferta disponível é de somenos importância.

Só os preocupa o reduzir/eliminar dos apoios à população, especialmente à mais carenciada, idosa, sem recursos e, claro, sem poder reinvindicativo, para não levantar ondas..

Atendendo às especialidades médicas mais carenciadas, mereciam era que lhes rebentassem a dentuça e lhe enfiassem um pau de marmeleiro num sítio que eu cá sei (ok, ok, a Ginecologia não trata de cús mas anda lá perto…)
KN

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Também ouvi a notícia, mas cá para mim é mais uma atoarda da comunicação social, principalmente quando vem da TVI.
Dentistas nunca houve no nosso sistema de saúde, porque eles não querem fazer carreira hospitalar, querem ir para a privada, porque lá é que ganham fortunas.

Nem todos/as ginecologistas são obstetras e eram esses que deviam seguir aas grávidas, mas esses também já só querem estar na privada.
As consultas de Natalidade, hoje em dia, são deguidas pelos médicos de família até perto dos 7 meses (a não ser que seja uma gravidez considerada de risco) e depois são seguidas em consultas neo-natais nos hospitais onde irão fazer o parto.
As grávidas não entram nessa lista de espera.

O que se está a passar, quanto a mim, é que nessas especialidades, quase todos os médicos preferem a privada, e os centros de saúde proliferam como cogumelos.
O sistema de saúde poderá pagar mais do que aquilo que paga? Duvido.

2:44 PM  
Blogger postquesequer said...

Olá, Marta,

Seja bem vinda a este espaço caótico, mantido por 3 pessoas e 1 exilado que, por acaso, é advogado.

Não se assuste com o título do post. Não é hábito.

Quanto ao tema, infelizmente não a vi na tvi ou no 24 horas, como poderá ver no post, vem do público, embora esteja, pelo menos, replicada no site da Sic.

O que critico no texto é a leviandade destes consultores (ironia, eu próprio e outro comentador residente deste blog também o somos) de, num modo pomposo, apresentarem a situação que todos conhecemos e dando como únicas soluções o encerramento, a redução, a eliminação de recursos e benefícios, como se a saúde fosse um luxo e não um direito constitucional e internacionalmente consagrado.

Peguemos no caso ridículo da medicina dentária (os 8% que estão no sector público devem ainda contemplar os médicos não no activo que só exercem funções docentes e os médicos estomatologistas das urgências hospitalares, o que significa que é virtualmente ZERO a cobertura pública, em ambulatório, em termos de saúde oral!).

Desculpe, mas não é aceitável. Não é aceitável a situação nem as "soluções" propostas!

Não é este o país que quero.

Atente-se na situação passada: esta falta de médicos e fuga para o privado é conjuntural? temporária? não prevista? Não, vem de sempre.

A classe opõe-se a qualquer entrada de mais elementos na profissão (lembra-se dos dentistas brasileiros?) de modo a manter o status quo. E o que dizem os consultores?

- Invista-se na Formação a Médio Prazo no país e recrute-se médicos estrangeiros até que se consiga suprir as carências? Não

- Invista-se, mesmo com a obrigatoriedade de prestar algum tempo de funções públicas, em estudantes que queiram seguir a sua formação superior no estrangeiro (há países com excesso de profissionais destes e outros que os formam muito mais barato que cá - vide Europa do Leste, cujo sistema de ensino é bem melhor que o nosso, acredite)? Não

- Obrigue-se os profissionais a optar pelo Público ou Privado, não cumulativos, de modo a perceber-se quais as reais necessidades dos país e aí decidir o caminho a seguir? Não.

E muitas outras opções poderíamos apresentar (inclusivé algumas diferentes, do tipo formação gratuita cá e 2/3 anos de prática exclusiva ao SNS).

Nada disto aparece. O que surge é encerrar, eliminar, reduzir.

Se conquista social fundamental houve com o 25 de Abril (obviamente excluindo a liberdade), foi o Sistema Nacional de Saúde, de carácter universal. Pago, tendencialmente pago, tendencialmente gratuito, isso pode-se discutir. Agora simplesmente eliminar valências médicas, empurrando para os Seguros Privados (que esses sim, têm benfícios fiscais!) e retirando qualquer possibilidade a uma fatia enorme da população, não aceito.

E nem falo por mim. Até tenho um seguro privado de saúde, que posso pagar. Mas eu não ganho 240 euros por mês de reforme, nem 400 euros de salário, nem tenho uma família para sustentar, Marta.

Ao invés de se ter constantemente reduzido o financiamento do SNS (mesmo com o aumento das despesas da saúde no seu global - que só pode ter sido feito pela via privada! - esta é a verdade e não o seu inverso, repetidamente dito, porque não apostar, numa perspectiva solidária, num sistema de cariz universal.

É isto que nos separa (UE) dos EUA!

É que a conclusão é simples, Marta:

- Se diminui o apoio ao SNS por via do orçamento (5,2% do PIB em 2004 para 4,8% em 2007).

- Se entre 2004 e 2007 o apoio ao SNS subiu 2,2% enquanto o PIB subiu 10,7%.

- Se nesse período os preços (inflação) subiram 8%.

isto significa que o apoio público DIMINUIU, em termos reais nos últimos anos, ao SNS.

Se a Despesa Total com a saúde aumentou (como aumentou), significa que embora o SNS tenha sido descapitalizado, a outra parte - sector privado - foi altamente capitalizado.

Resultados: Com honrosas excepções, temos mais despesa fiscal, as mesmas listas de espera (mesmo que a sua tentativa de redução seja paga a peso de ouro, nos privados), valências privatizadas (ter mais de 90% do total de médicos não é mais que isso).

Lamentavelmente, o peso da saúde no PIB aumentou 2.2% na saúde, de 2004 a 2007. As despesas do Estado aumentaram, em igual período, 9,6%.

Por isso o país PODE e DEVE pagar mais pelo seu Sistema Nacional de Saúde, atendendo ao nível de rendimentos da população, ao nível das reformas, ao nível de vida das pessoas (sim, eu só falei de números - mas estamos a falar de PESSOAS).

Reduzir despesas é fácil (como Consultor, tenho obrigação de o saber). Basta fechar, reduzir, eliminar, boicotar.

Mas eu não sonho com um país fechado, reduzido, eliminado.

Beijinhos

Carlos Neves

10:55 PM  

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