4.26.2007

Morrer Vivendo

Morre lentamente quem não viaja; quem não lê; quem não ouve música; quem não
encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os
dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, quem não se arrisca a
vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão; quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos sem bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu
trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás dum sonho,
quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos
sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva
incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta
sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre
algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um
esforço muito maior que o simples facto de respirar


Pablo Neruda

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